Nestas próximas semanas compartilharei trechos de um artigo que escrevi juntamente com colegas do Programa de Pós-Graduação em Medicina Veterinária da UFPR e publicamos na Revista Clínica Veterinária. Nele a Saúde Única que reúne a Medicina Animal, Medicina Humana e Meio Ambiente é abordada. Vamos ao trabalho!
“Desde 2013, o transtorno de acumulação de objetos e/ou animais está classificado no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – 5ª edição (DSM-5), apresentando uma prevalência aproximadamente 2% da população mundial. Conforme definição do DSM-5, este transtorno se caracteriza pela dificuldade e sofrimento em descartar ou se desfazer de itens prescindíveis ou para os quais não há espaço e condições domésticas disponíveis, o que acarreta na acumulação, podendo inclusive ser o caso de animais em situação de acumulação, afetando o funcionamento global da vida do indivíduo.
Acredita-se que fatores individuais, como genéticos, neurocognitivos, de personalidade e eventos traumáticos podem estar associados ao desenvolvimento do transtorno de acumulação, bem como fatores demográficos como sexo, idade e condições socioeconômicas. Nesse contexto, indivíduos com transtorno de acumulação podem perder o apoio e vínculo de seus familiares, intensificando o comportamento antissocial e, consequentemente, o isolamento, o que aumenta o apego com os objetos e animais envolvidos. Portanto, qualquer ação referente à retirada desses objetos e/ou animais da tutela desse indivíduo pode causar grande desconforto emocional.
Assim, a correta identificação de indivíduos com comportamento de acumulação, com ou sem o diagnóstico clínico definitivo de transtorno de acumulação, deve propiciar o conhecimento e o atendimento às necessidades imediatas daquele indivíduo, dos possíveis animais envolvidos e do ambiente em que vivem, buscando estabelecer o vínculo para acompanhamento e tratamento a longo prazo. Devido ao prejuízo social, sanitário e ambiental, a acumulação compulsiva de objetos e/ou animais representa um desafio multisetorial, pois é necessário que a abordagem compreenda os todos os aspectos da Saúde Única. ”