Uma das mais desafiadoras e importantes etapas em relação aos casos de Covid-19 está no processo de recuperação de pacientes infectados pelo vírus. Inúmeros profissionais atuam diariamente para atender as pessoas afetadas pela doença, desde os casos mais leves, com uso de medicamentos, aos considerados graves, sendo necessárias intervenções com uso de respiradores até internação em UTIs.
Uma das especialidades com papel considerado essencial neste cenário é a fonoaudiologia, a qual tem atuação, na maioria dos casos, em pacientes submetidos a utilização dos respiradores, entubados ou traqueostomias. A atividade fonoaudiológica acontece dentro do hospital e após a alta hospitalar.
A fonoaudióloga Yasmin Quege vem desde o início da pandemia auxiliando na reabilitação de pacientes afetados pela doença e detalha a dinâmica dos atendimentos prestados. “Paciente com dispneia (falta de ar) que tenha passado por ventilação mecânica invasiva, apresenta grande risco de aspirar alimento para os pulmões e acabar evoluindo para o agravamento do quadro pulmonar. Aqueles que tiveram a forma mais grave da Covid-19 e precisaram de intubação orotraqueal, precisarão da avaliação fonoaudiológica após a extubação para voltarem a se alimentar de forma mais segura, ou seja, sem risco de broncoaspiração. Isso tudo acontece porque a intubação prolongada pode lesionar as estruturas da laringe, como as pregas vocais, alterando assim, o padrão de deglutição e a produção da voz”, conta Yasmin, destacando que as alterações fonoaudiológicas ocasionadas pelo novo coronavírus têm sido cada vez mais evidentes para a população.
“Dentre as quais temos anosmia (perda do olfato) e ageusia (perda do paladar). Estas alterações ocorrem devido ao vírus se ligar e entrar nas células da mucosa oral e nasal. O que temos visto na literatura é que as pessoas diagnosticadas com Covid-19 perdem em média, 80% do olfato e 69% do paladar”, esclarece.
A profissional explica ainda os exercícios realizados no tratamento dos pacientes. “Avaliamos e reabilitamos as funções orais relacionadas à alimentação. Através de técnicas e estratégias específicas para o indivíduo voltar a alimentar-se pela boca. Em alguns casos o paciente pode necessitar fazer uso de via alternativa de alimentação (sonda) até recuperar as funções de deglutição.
Temos também os pacientes que podem necessitar de uso da comunicação alternativa devido à impossibilidade de comunicar-se através da fala, podendo estar relacionado com alteração na produção da voz ou uso de traqueostomia que dificulta a comunicação. Sobre a alteração do paladar e olfato, estas estão correlacionadas, pois não se dá somente na boca, língua e papilas gustativas. Ela ocorre somada aos estímulos olfatórios, com o cheiro do alimento, com o vapor do alimento, essas duas informações da nossa língua e nosso nariz enviam um estímulo para o nosso cérebro que reconhece o gosto dos alimentos. A intervenção é ampla, pode ser aplicada desde estímulos de terapia olfatória, estímulos para adequação dos órgãos fonoarticulatórios,” pontua.
Por fim, Yasmin reforça a importância do profissional fonoaudiólogo no combate ao coronavírus e no atendimento à população afetada pela doença. “O trabalho do fonoaudiólogo, apesar de ser pouco conhecido na atuação junto aos pacientes com Covid-19, tem se demonstrado essencial na equipe multidisciplinar na linha de frente do combate à pandemia. A principal indicação de atendimento fonoaudiológico no ambiente hospitalar com os pacientes graves tem sido a necessidade de manejo da disfagia e redução do risco de broncoaspiração. É importante atentar ao quadro respiratório do paciente com a doença, pois a incoordenação entre a respiração e deglutição é fator de alto risco para broncoaspiração”, finaliza.