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Coluna: Inspirar e expirar, envolver e desenvolver: o caminho para o Litoral

Por: Raphael Rolim de Moura

 

A falsa ideia de que um porto por si só traz desenvolvimento é uma grande falácia que deve ser combatida. Paranaguá é exemplo disso. Publiquei a coluna desta e da próxima semana na Gazeta do Povo de 22 de julho de 2018. Revisito estas palavras para que possamos refletir em que tipo de desenvolvimento queremos.

Assumi a pasta do Meio Ambiente de Paranaguá em janeiro de 2017. Já no primeiro dia de trabalho me surpreendi com o que encontrei no município. Aluguei uma casa no bairro São Vicente, vizinho do Aeroparque, e passei a fazer da gestão ambiental do município nas 24 horas do dia. A partir desse momento, senti-me adotado pela “Cidade Mãe do Paraná”. Já no primeiro levantamento sobre as necessidades do município, deparei-me com um histórico de dengue, fruto, muito provavelmente, de uma má gestão histórica da limpeza pública incluindo conceitos estruturais, logísticos, culturais e educacionais.

Iniciado um trabalho de construção de um novo processo licitatório para a limpeza pública da cidade, reorganizamos o calendário de coleta, otimizamos as rotas dos caminhões, fiscalizamos com afinco o contrato atual, trabalhamos com as cooperativas de catadores de materiais recicláveis e com educação ambiental nas escolas e, mesmo assim, a aparência de cidade suja permanecia, gerando relação de amor e ódio da cidade com o Porto de Paranaguá. A maioria dos empregos do município tem ligação direta ou indireta com a atividade portuária. Isso causa a parte do “amor”. O sentimento de que as duas principais vias de acesso ao porto – e, conjuntamente, ao município – trazem a sensação de sujeira e abandono por parte do poder público, por outro lado, gera o “ódio”. O simples exercício de inspiração e expiração permite ver o quanto a atividade portuária pode ser danosa.

A Avenida Bento Rocha, com obrigação de manutenção por parte do Departamento de Estradas de Rodagem (DER) – que, após anos de descaso, passa agora por reforma – e a Avenida Ayrton Senna da Silva, com obrigação de manutenção por parte do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), transbordam de fertilizantes, soja e outros grãos ou farelos. Parte deles vem do crime de vazada (prática criminosa que ocorre em Paranaguá, na qual as bicas dos caminhões são vandalizadas para roubo da carga e troca da mercadoria por drogas), ou da falta de limpeza adequada dos caminhões. Sem falar no verdadeiro caos que o tráfego dos caminhões causa na cidade, gerando congestionamentos semelhantes aos de São Paulo e deterioração das vias portuárias. Elas nos levam a imaginar uma viagem às crateras lunares.



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