sexta-feira, 26
 de 
abril
 de 
2024

Indivíduos com comportamento de acumulação e a saúde única (Parte III)

“O contato íntimo e as zoonoses.

O cenário atual da pandemia da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS-CoV-2), COVID-19, que estudos apontam ter se iniciado como uma zoonose, e os dados da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) que apontam que 60% das doenças infecciosas conhecidas atualmente tem um caráter zoonótico e mais de 75% das doenças emergentes tiverem origem em animais, são um alerta de que o contato próximos com os animais possa gerar nos patógenos o conceito de spillover que é quando um patógeno que só acometia uma espécie se adapta, por meio de mutações, e passa a causar doença em outras espécies. Nesse contexto, o cenário de acumulação de animais se torna um ambiente totalmente propício para que aconteça o spillover de algum patógeno, pois a condição de estresse prolongado que estão sujeitos os animais e indivíduos com comportamento de acumulação, aliado ao déficit alimentar que enfrentam, por falta de recursos financeiros, e o contato íntimo que esses indivíduos tem com seus animais, acabam por diminuir a capacidade do sistema imune de lidar com os possíveis patógenos, podendo levar à ocorrência de mutações que permitem esses patógenos infectarem e causarem doença em várias espécies. Apesar dos riscos que estão sujeitos os indivíduos e seus animais e o grande número de animais envolvidos, estudos realizados no município de Curitiba no estado do Paraná demonstraram que a frequência de anticorpos para leptospirose e toxoplasmose nos indivíduos com comportamento de acumulação e em seus animais é menor que a frequência de anticorpos na população geral.

O Médico veterinário e os indivíduos com comportamento de acumulação.

Geralmente o médico veterinário é quem assume a frente no trabalho com os indivíduos com comportamento de acumulação, pois possui em sua grade de formação disciplinas que abordam os conceitos de saúde única e é um profissional da área da saúde. O médico veterinário consegue muitas vezes formar o vínculo de confiança com essas pessoas e assim progredir com os trabalhos que visam o manejo da população de cães e gatos envolvida e melhorias no bem-estar desses animais, reduzindo os riscos da situação. A prática da esterilização dos animais é uma das principais estratégias no manejo dessa população evitando o aumento dos animais e algumas vezes a adoção de alguns membros. Porém, ainda é necessária uma abordagem que contemple a condição psicossocial do indivíduo e as precárias condições ambientais, necessitando de auxílio de outros profissionais como assistentes sociais, médicos e psicólogos. Com isso a abordagem de um caso de indivíduo com comportamento de acumulação se torna mais facilitada, quando ocorre de forma multidisciplinar e a pessoa é assistida pelo Núcleo de Ampliado de Saúde da Família (NASF).”

Share on facebook
Facebook
Share on twitter
Twitter
Share on linkedin
LinkedIn
Share on telegram
Telegram
Share on whatsapp
WhatsApp
Share on email
Email