terça-feira, 30
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2024

Urbanismo Ecológico

Vicente Loureiro – Arquiteto e urbanista, doutorando pela Universidade de Lisboa, autor do livros Prosa Urbana e Tempo de Cidade

Esse título aparentemente é um oximoro ao juntar palavras de significados opostos e, até de certo modo, excludentes, mas que reunidas, ganham sentido próprio e, no caso, reconciliador, afirmando assim ser possível a convivência da ocupação urbana com a paisagem desde que balizadas pelas potencialidades e limitações dos recursos naturais disponíveis. Quem levantou esse paradoxo pela primeira vez foi o professor Mohsen Mostafavi no preâmbulo do livro “O Urbanismo Ecológico”, por ele organizado em conjunto com Gareth Doherty, ambos da Havard University.

Estimam especialistas que o conceito Urbanismo Ecológico nasce no final do século passado, porém o simpósio organizado por Harvard em 2009 é considerado um marco na difusão das pesquisas, reflexões e práticas multidisciplinares dessa iniciativa de criar estratégias para mudança de paradigma no desenho da cidade, onde o elemento estruturante da nova urbe passa a ser a paisagem e não mais sua arquitetura. Um novo cenário para um novo estilo de vida mais equilibrado, com mais qualidade e atendendo as necessidades coletivas.

Nas cidades praticantes do Urbanismo Ecológico, as áreas verdes não devem servir apenas para embelezá-las, entreter e espairecer seus habitantes. Devem funcionar também como estruturas de engenharia ambiental capazes, por exemplo, de amortecer, reter ou mesmo reaproveitar as águas pluviais, além de contribuírem para a existência de paisagens biologicamente cada vez mais diversas. Sem contar ainda com a necessidade de nelas reintroduzir áreas de cultivo e produção de alimentos, entendendo a agricultura como elo de ligação entre o natural e o construído.

Recomendavam também nas discussões do referido simpósio uma mudança na relação das cidades com seus rios, córregos e lagoas. Destacavam que os processos naturais geológicos e hídricos são fundamentais para lidar com as questões urbanas de forma ecológica e urbanisticamente segura, sem deixar de destacar o potencial do sol, dos ventos e dos resíduos urbanos na geração de energia limpa, entre outros processos, para torná-las mais amigáveis e integradas a natureza.

Para o Urbanismo Ecológico, as cidades devem se afastar do antropocentrismo, fazer uma curadoria adequada dos recursos naturais disponíveis, buscar a sustentabilidade via a densificação do seu território aproveitando melhor a infraestrutura existente e reduzindo as necessidades de deslocamento e, ainda, reconfigurá-las de modo a adaptá-las as transformações geradas pelo trabalho difuso e pela economia criativa, entre outras inovações contemporâneas.

Na tutela do território urbano, certamente será cada vez mais necessário que as cidades saibam lidar com os remanescentes da era industrial. Entendendo que os edifícios precisarão ser reciclados para usos cada vez mais flexíveis e compartilháveis. O modo de usar os artefatos fixos e móveis dos seus ativos será pré-requisito para cidades mais ou menos ecológicas. Parece ter passado o tempo dos projetos “arrasa quarteirões”.

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