sexta-feira, 3
 de 
maio
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2024

Estima-se que 85% da população brasileira viva hoje em áreas urbanas. Sendo elas consideradas o produto mais complexo inventado pelo homem e, no caso brasileiro, responsáveis ainda pela geração de pelo menos três quartos do PIB, não fica difícil constatar: não é o Agro que é tech, que é pop e que é tudo. São as cidades. Vem de suas realizações os sinais concretos de que a vida pode ser melhor por aqui. Não depende só delas, é verdade, porém algumas iniciativas postas em prática nas mais criativas e conectadas apontam para a entrega de serviços públicos com mais qualidade, menor custo e maior alcance social.

Há uma espécie de elite das cidades brasileiras formada por 5 a 10% dos municípios existentes. São aqueles que costumam frequentar as listas dos melhores para se viver, investir ou trabalhar. Além dos rankings de temáticas mais específicas e setoriais, tipo as campeãs na saúde, educação, segurança, mobilidade e etc., vem surgindo desse Brasil Urbano, nos últimos anos, políticas públicas a nos fazer crer que a vida pode ser melhor no curto prazo, sem que isso implique em vultuosos gastos ou grandes obras.

A transformação digital tem permitido algumas cidades praticar saltos acrobáticos na oferta de mais e melhores serviços à população. Existem prefeituras que já disponibilizam centenas deles via internet. Não só aquelas certidões burocráticas de serventia duvidosa, mas atividades concretas tipo marcação de consultas, exames, entrega de remédios, matrículas e chamadas de presença por controle facial nas escolas, licenciamentos de toda ordem se multiplicam, a ponto de já existir casos onde o papel está sendo completamente abolido das “repartições”. Para esses governos locais, a cidade inteligente é a que atende melhor as pessoas.

Para promover tal conjunto de medidas, não tem faltado estímulos institucionais e mesmo tributários nas administrações mais ousadas. Verdadeiros ecossistemas de inovação têm sido montados, promovendo o aperfeiçoamento da legislação, criando incentivos fiscais, instalando centrais de inteligência, elaborando Planos de Diretores de tecnologia, universalizando o acesso à internet.

Todas as medidas implantadas na perspectiva de garantir acesso irrestrito dos cidadãos a todos os espaços, infraestruturas e serviços públicos. Guiados pelo mote de que a cidade inteligente é aquela que sabe olhar para si e para o cidadão.

Estimulante perceber a maturidade política de alguns slogans presentes nas cidades mais destacadas nos rankings de desenvolvimento, como, por exemplo, os divulgados recentemente pela plataforma Conect Smart City: “quanto menos o cidadão precisar pedir, melhor”; “entregar uma cidade mais bonita, mais justa e melhor ao sucessor.”; “governar é uma corrida sem linha de chegada.”. Nem parece que estamos no Brasil atual.

Anima também que os esforços de planejamento integrado e continuado são considerados verdadeiros artífices da maioria dos êxitos conquistados. Utilizando-se do que a tecnologia pode ofertar, é possível cada vez mais simular o que pode acontecer sobre um território, sejam os impactos de eventos climáticos extremos ou resultantes de projetos de desenvolvimento urbano ainda em gestação. Não é coincidência que entre as cidades mais destacadas existem estruturas de planejamento urbano autônomas e perenes. Todas com suas entregas a nos fazer crer que o futuro mora nelas. Nas bem planejadas, ele chegará primeiro.

*Vicente Loureiro, arquiteto e urbanista, doutorando pela Universidade de Lisboa, autor dos livros Prosa Urbana e Tempo de Cidade

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