sexta-feira, 29
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março
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2024

Lula, o mito e os exageros

Amanhã, Luiz Inácio Lula da Silva vai completar sua primeira semana preso. Isso mesmo, o ex-presidente da república mais popular do país e atual líder nas pesquisas da eleição presidencial está fechado numa cela da Polícia Federal em Curitiba. É, sem dúvidas, um fato que poucos acreditavam e que os integrantes e simpatizantes do Partido dos Trabalhadores (PT) sequer poderiam imaginar.

A prisão de Lula é a principal pauta de todos os noticiários do país desde a quinta-feira da última semana, quando o juiz Sérgio Moro expediu ordem de prisão e sugeriu que o ex-presidente se apresentasse espontaneamente. Lula, num primeiro momento, não se entregou, e junto de lideranças e militâncias do PT promoveu o que chamaram de “resistência” pelo período de dois dias. No Sindicato dos Metalúrgicos do ABC Paulista, cercado por um grande público, Lula ficou de quinta até sábado. Houve tentativa no campo jurídico de impedir a prisão, enquanto se ganhava a atenção de todo o país e preparava-se um fato numa eventual prisão por forças maiores.

Lula não resistiu e teve que se entregar. Mas antes disso discursou e, principalmente, conseguiu fazer uma imagem no meio do povo para marcar a chamada “resistência”. Além disso, na sua fala, disse que não é mais apenas uma pessoa, agora ele é uma ideia. E pediu que se multipliquem “Lulas” por todo o Brasil.

É possível acreditar que o PT e seus principais nomes realmente não imaginavam que o grande líder poderia ser preso. Como assim, Lula atrás das grades? E, quando começaram a perceber que o inimaginável poderia se concretizar, a saída foi fazer desse acontecimento um marco na história do país. Mais do que isso, fazer de Lula o injustiçado e, principalmente, um mito. O próprio discurso do ex-presidente horas antes de entrar no carro da Polícia Federal foi produzido neste sentido. “Eu não sou mais um ser humano. Eu sou uma ideia”, disse Lula, acreditando, de fato, que pode ser um mito.

A estratégia do PT e do seu líder maior vem carregada de exageros. É possível reconhecer avanços importantes no governo do ex-presidente Lula. Chegamos ao quase pleno emprego, ao aumento real do salário mínimo, maior e mais crédito para os mais pobres, redução significativa da miséria e maior acesso dos menos favorecidos às universidades. Ok. Mas foi também no governo do PT que a corrupção se banalizou e que a ganância pelo poder ultrapassou qualquer interesse que fosse da construção de um país melhor.

Ao dizer que agora é “uma ideia”, Lula esqueceu que essa sua tese tem dois sentidos. Para seus seguidores ele é sim uma ideia de defensor dos pobres, do operário que virou presidente, do líder mundial e do defensor das igualdades. Mas para seus contrários ele é uma ideia de corrupto, patrocinador de corrupção, transgressor das leis e que falta com a verdade. E, diante dessa contrariedade, é impossível se tornar uma ideia, um mito.

Nesta semana, quando parlamentares solicitaram formalmente para incluir em seus nomes o nome Lula, notou-se mais uma vez o exagero da vontade da personificação. Ideia e mito não se formam por imposição, ao contrário, acontecem pela naturalidade da aderência. Enfim, não é tão simples assim ser um Martin Luther King, Nelson Mandela ou Mahatma Gandhi.

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