sábado, 23
 de 
novembro
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2024

Lugares com ou sem destino

Vicente Loureiro – Arquiteto e urbanista, doutorando pela Universidade de Lisboa, autor do livros Prosa Urbana e Tempo de Cidade

Cidades podem guardar lugares muito atraentes, classificáveis como topofílico, onde as pessoas costumam estar confortáveis e sem perturbações. Mas também costumam conter sítios onde a sensação dominante é a de medo ou, no mínimo, de sobressalto. Chamados de topofóbicos, onde predominam sentimentos de rejeição e, por vezes, até de repulsa.

Diversos fatores tangíveis e intangíveis interagem na configuração dessas percepções de aconchego ou desconforto dos usuários e transeuntes desses lugares, pelo bem ou pelo mal, destacados da paisagem urbana. Alguns de natureza biológica, resultante de estímulos aos órgãos sensoriais provocados pelos elementos constitutivos do ambiente vivenciado. Outros, de origem cultural, catalisando reações completamente distintas influenciadas por valores, sentimentos e leituras das pessoas das mais variadas origens e vivências com a cidade.

Os elementos concretos de um determinado lugar podem gerar nas pessoas sensações de bem-estar, encantamento, pertencimento, etc. Como também, em situações opostas, sentimentos de desconforto, insegurança e desapego. Os que agradam costumam estreitar os laços dos usuários ou visitantes com o lugar, transformando-os em preferidos e de usos intensos. Enquanto os que provocam reações negativas tendem a se deteriorar, contribuindo para aniquilação daquela paisagem, que um dia foi imaginado ser relevante para a cidade.

Por vezes, o erro pode estar no projeto ou dimensionamento das atrações e conveniências oferecidas pelo espaço motivo da intervenção original. Em outros casos, as causas estão vinculadas a problemas comportamentais dos usuários ou de governança daquele território urbano, cujo destino não se conseguiu fazer cumprir. Respeitar o papel de destaque que tal espaço merece ter, seja por sua localização, dimensões entre outros atributos, é tarefa singular e complexa. Pode exigir abandonar o projeto original ou mudar radicalmente a maneira de gerir o espaço e suas funções. Um desafio de conceituação visando uma ressignificação exitosa e durável.

De um modo geral, lugares de destaque que não conseguiram cumprir sua função social na cidade, por vezes, sofrem e provocam uma contaminação de desuso e descaso, comprometendo aspectos positivos que o sítio e seu entorno oferecem. Pioram por não ter vida ativa e não conseguem ter vida ativa por piorar. Ressuscitar ambientes assim exige perícia e ousadia, pois o que era para ter sido não foi. E, se assim permanecer, nunca será. A população do entorno com suas necessidades, novos hábitos e costumes exige outra destinação. Nesses casos, o melhor é preservar a intenção de se fazer um lugar de preferência das pessoas e não manter, apenas por manter, o que não se usa ou não se quer usar. Lidar com demandas não atendidas e espaços públicos subutilizados segue sendo um desafio renovado das cidades.

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