quinta-feira, 21
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novembro
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2024

Cidades quase inteligentes

Por Vicente Loureiro – Arquiteto e urbanista, doutorando pela Universidade de Lisboa, autor dos livros Prosa Urbana e Tempo de Cidade

Soluções, serviços e novas tecnologias vêm sendo cada vez mais usadas para melhorar a qualidade de vida nas cidades, impulsionar seu desenvolvimento e ativar o futuro. Os resultados desses esforços são monitorados regularmente há 10 anos pelo ranking Connect Smart Cities elaborado pela Urban Systems e que se propõe medir o desempenho das cidades por meio de indicadores quantitativos. Avaliando 656 municípios com mais de 50 mil habitantes onde vivem 60% da população brasileira.

Para tanto, são usados 74 indicadores agrupados em 11 eixos temáticos: governança, segurança, meio ambiente, energia, saúde, mobilidade, urbanismo, economia, empreendedorismo, tecnologia & inovação e educação. As cidades avaliadas são reunidas segundo o tamanho da população e divididas conforme a localização geográfica. As melhores colocadas promovem com frequência o mapeamento das informações coletadas, facilitam o acesso aos dados disponíveis e costumam usar as evidências para identificar e enfrentar os problemas públicos urbanos mais agudos e recorrentes.

Inegável que tais procedimentos têm permitido às cidades diagnosticar com precisão o estado da arte em diversas áreas da gestão urbana, sobrepondo dados, especializando-os e comparando-os com de outras cidades. Ao mesmo tempo, processos de certificação, tipo ISO, são promovidos visando atrair mais investimentos, aprimorar e aperfeiçoar a qualidade dos serviços prestados, além de permitir benchmarking com políticas públicas melhor ranqueadas em temas como sustentabilidade, resiliência e eficiência energética, entre outros. Sem contar a possibilidade de tais ferramentas colaborarem nos ajustes das metas de planejamento traçadas, evitando o desempenho errático e perdulário das ações de governo.

Também tem avançado bastante nas cidades – ditas inteligentes – a utilização da telemetria (medição remota) no monitoramento do tráfego e segurança viária, de modo a permitir a redução de acidentes e mortes, aumentar o conhecimento das características e peculiaridades do trânsito local e, ainda, promover melhoria na mobilidade urbana, através da identificação mais precisa das necessidades reais de transporte da população, controlando com mais efetividade o desempenho dos serviços ofertados.

São recentes e promissores os casos de uso de inteligência artificial em ações de combate ao crime, aumentando o poder investigativo dos agentes de segurança e permitindo com isso, tornar muito mais eficaz a fiscalização e controle sobre atividades criminosas espalhadas pelo território das cidades. Cabe registro também as iniciativas voltadas para descarbonização das áreas urbanas, mediante o acompanhamento das mudanças promovidas na matriz de fonte de energia de cada cidade, tendo em vista reduzir a pegada de carbono e realizar a transição energética o mais rápido possível.

Arrisco dizer que há uma lacuna entre os benefícios promovidos pelas novas tecnologias aplicadas à gestão das cidades. Refiro-me a informalidade, ainda muito mal mensurada, pouco monitorada ou não merecedora ainda de esforços notáveis de enfrentamento das mazelas por ela geradas. Sejam as provenientes da expansão urbana sem controle, do número expressivo de pessoas vivendo na economia paralela ou mesmo aquelas oriundas das frustradas expectativas de inclusão dos jovens “nem nem”. Creio ser indispensável tratar de tais demandas latentes para poder de fato chamar nossas cidades de inteligentes.

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