quinta-feira, 9
 de 
maio
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2024

A letalidade do trânsito urbano

Por Vicente Loureiro – Arquiteto e urbanista, doutorando pela Universidade de Lisboa, autor dos livros Prosa Urbana e Tempo de Cidade

A última versão do Anuário Estatístico do Detran-RJ, editado em 2022 com dados de 2021, nos revela como os fluminenses se comportam no trânsito, indicando ainda onde e como podemos colaborar no sentido de reduzir os acidentes e, sobretudo, a fatalidade das vítimas de parte deles, entendendo o trânsito como a utilização das vias por toda sorte de veículos, motorizados ou não, de pedestres e ciclistas com o objetivo de dar conta das necessidades de deslocamento das pessoas e mercadorias nas cidades e entre elas.

Sendo assim, as diversas formas de circulação, as paradas necessárias, os estacionamentos e as manobras de carga e descarga, entre outras atribuições presentes no trânsito, precisam ser consideradas, levando em conta as diferentes condições de como são praticadas por pessoas e veículos. Como também aqueles aspectos que devam merecer mais atenção e obter prioridade no uso das vias disponíveis, indispensáveis e fundamentais para a tomada de decisões com o intuito de reduzir a fatalidade nos acidentes de trânsito, responsável pelas mortes não naturais mais expressivas do país, perdendo apenas para aquelas provocadas pela violência urbana.

Os dados revelados pelo anuário do Detran comprovam que as principais causas de acidentes de trânsito são provocadas pela negligência dos motoristas, não respeitando as leis, apresentando sinais de embriaguez que são expressas em excesso de velocidade, avanço de sinal, falta de atenção, entre outras infrações. Conhecer o comportamento dos condutores, as características da frota e os locais onde ocorrem mais acidentes colaboram para que medidas preventivas e corretivas possam ser tomadas com o objetivo de combater a sinistralidade no trânsito nas cidades e estradas fluminenses.

O Estado do Rio possui uma das mais elevadas taxas de motorização do país com um veículo para pouco mais de dois habitantes. Apresentando um crescimento da frota de veículos de 2,7% verificado em 2022 em relação ao ano anterior, sendo 94% dos veículos destinados ao transporte individual, somando automóveis e motos, e apenas 1% deles ao transporte coletivo, o que desmistifica uma afirmação de que eles, os ônibus, atrapalham a fluidez do trânsito. Não é possível que um em cada 100 veículos em circulação receba ainda essa acusação injusta e estatisticamente insustentável.

É relevante também a expansão da frota de motocicletas. Elas já representam um em cada cinco veículos circulando no Estado e com viés de alta. Tendo, inclusive agora em 2023, ultrapassado a venda de automóveis por aqui, o que desmente outra constatação sem comprovação estatística: não são elas as responsáveis pela maior parte dos acidentes, apesar dos motociclistas serem suas maiores vítima. Há muito o que fazer para tornar o trânsito mais seguro para as motos, principalmente nas cidades e via regionais.

Os números do Detran confirmam que circular nas cidades é duas vezes mais perigoso do que nas estradas. As vítimas fatais de acidentes de trânsito, registradas pelo anuário, ocorreram majoritariamente nas vias urbanas ou regionais, e perto de 20% delas, acreditem, aconteceram em apenas três avenidas localizadas na cidade do Rio de Janeiro: na Avenida Brasil, na Presidente Vargas e na Cesário de Melo. Olhar com atenção os dados revelados pelo levantamento do Detran pode poupar vidas. As cidades fluminenses precisam urgentemente melhorar a gestão do trânsito, pois, na média, apenas 20% das multas aplicadas por infrações são da lavra das prefeituras, excetuando-se a capital. Há municípios inclusive que sequer exercem esse poder de fiscalização. Diminuir a letalidade no trânsito urbano é possível e não custa caro. Basta querer.

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