O Brasil vive nos últimos nove dias uma situação impensável e que tomou proporções sem tamanho para os mais diversos setores da economia nacional. A paralisação dos caminhoneiros, que se iniciou com a cobrança pela redução no preço do diesel, foi ganhando força, simpatizantes e apoio da sociedade em geral. Unificou direita e esquerda, comerciantes e agricultores, empregados e profissionais liberais, religiosos e estudantes, enfim, se multiplicou por todos os cantos. A greve mostrou, de forma muito prática, a força do modal mais utilizado para o transporte de cargas no país. No sétimo dia, após tentativas sem sucesso, o governo federal anunciou um pacote de medidas em favor dos caminhoneiros. Esperava-se assim, o começo do fim da greve. Não resolveu.
Neste período, muitos setores se movimentaram e pediram insistentemente o fim da paralisação, expondo de maneira destacada os reflexos penosos para a economia e a retomada do crescimento. Hospitais e escolas fechadas, fábricas e empresas paradas, milhões de aves sacrificadas, milhões de litros de leites jogados, enfim, cenários nada positivos para um país que busca sair da crise e voltar a gerar emprego e renda. Todo esse contexto fez, inclusive, que algumas pessoas mudassem a forma de ver e pensar sobre a greve. Mas no geral, a defesa da classe dos caminhoneiros não se abalou.
A população brasileira, que foi às ruas e às rodovias com bandeiras e o hino nacional, está cada vez mais consciente de que 46 centavos de reais não vão resolver o problema dos motoristas de caminhão e do país. É preciso muito mais.
Há, entre o povo em geral, incertezas permanentes. São resultados do descontentamento com os maus feitos dos governos e com o tamanho dos gastos públicos. A greve dos caminhoneiros vai além da reivindicação pela redução dos preços dos combustíveis e do pedágio e pela melhoria do preço dos fretes, ela mostra que a população quer sinais reais do enxugamento da máquina, que vai desde o fim dos privilégios até o combate à corrupção e, se possível, extinção de cargos públicos e mandatos eletivos.
Os caminhoneiros, na sua iniciativa e legítimas demandas, deram voz e estímulo para que a população mostrasse mais uma vez o tamanho da sua revolta pelo desgoverno que vivemos nos últimos tempos.
Reconhecemos a necessidade do amplo diálogo e da sensatez sobre a paralisação em questão e seus reflexos para o Brasil, ao mesmo tempo que corroboramos com a indignação daqueles que não suportam mais uma nação que privilegia os mais ricos e empoderados, em especial os políticos e seus apadrinhados.
O momento exige acima de tudo muita responsabilidade com os destinos do Brasil e neste sentido é importante que a paralisação dos caminhoneiros não tome contorno partidário e de grupos. Se infelizmente isso ocorrer, muito do sentido se perderá.
Por fim, a população brasileira terá neste ano, mais precisamente no mês de outubro, uma grande oportunidade de mostrar o que quer para o seu futuro. A eleição e o voto podem dar respostas determinantes para que tenhamos melhores possibilidades de viver sem tanta desigualdade. E isso se dará sob a consciência de cada um de nós.