sábado, 23
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novembro
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2024

Por Vicente Loureiro – Arquiteto e urbanista, doutorando pela Universidade de Lisboa, autor dos livros Prosa Urbana e Tempo de Cidade

Recorro a antiga charada “o que é que encolhe mas cresce?”, “A mola”, para poder falar de dois fenômenos interessantes captados pelo censo de 2022 do IBGE. A redução da população da cidade do Rio de Janeiro em quase 2%, quando comparada a verificada no censo de 2010, e o crescimento vertiginoso dos domicílios instalados na cidade, chegando perto de 3 novos para cada 8 existentes em apenas 12 anos. Quer dizer: demograficamente o Rio encolhe ao mesmo tempo em que vê crescer, como nunca, o estoque de seus domicílios.

Enquanto no Brasil os domicílios aumentaram perto de 5 vezes mais do que o número de habitantes, no Rio esta proporção chegou perto de 40 vezes. Um recorde preocupante, principalmente se levarmos em consideração para onde e como essa renovação expressiva de domicílios se deu. O que de fato foi produzido formalmente para atender tal crescimento e se aconteceu onde a cidade já existia ou, então, foi produto de sua expansão territorial informal e precarizada. Olhando para frente e considerando cenários do desempenho demográfico e sócio-comportamental recentes, residirá no domar a elasticidade do efeito mola o maior desafio urbanístico da cidade?

A causa deste encolhimento populacional e crescimento físico da cidade para os lados e para cima resultam, principalmente, da redução do número apurado pelo Censo de pessoas por domicílio, chegando, no Rio, a razão de 2,1 moradores por cada unidade recenseada, provocada pela queda da taxa de natalidade, pelo aumento da expectativa de vida e incrementada por mudanças comportamentais da sociedade, tais como mais pessoas vivendo só, tanto adultos quanto idosos, e os novos arranjos familiares entre outras, impulsionando a necessidade de construção de mais domicílios, mesmo tendo a população diminuído. Um aparente paradoxo, mas aritmeticamente fácil de explicar.

Os números falam por si. Enquanto entre 2010 e 2022 o Rio perdeu perto de 100 mil habitantes, no mesmo período instalaram-se na cidade mais de 800 mil novos domicílios e a explicação é simples: se cada vez menos pessoas vivem sobre o mesmo teto, será preciso construir novas unidades para poder abrigá-las. Daí o efeito mola: a população encolhe, mas a cidade segue crescendo e, pior, a produção de moradias populares, nesse mesmo período, foi responsável por no máximo 10% dos novos domicílios plantados na cidade.

Estudos realizados para avaliar o que pode acontecer com o Rio em termos demográficos e territoriais nos próximos anos indicam um crescimento da ordem de 5% do território comprometido com a urbanização a cada década. Uma superfície equivalente as áreas do Centro e do Porto Maravilha juntas. Se ocorresse toda essa expansão na mesma parte da cidade, já seria difícil ajustar a infraestrutura existente às novas demandas, o que dirá ter que provê-la de modo pulverizado e disperso. Um desafio de gestão urbana extraordinário.

O lado positivo é considerar a energia mecânica centrada na elasticidade dessa mola. Saber aproveitar toda essa potência para produzir um desenvolvimento urbano inclusivo e sustentável pode vir a ser um ponto forte da cidade não mais uma ameaça. Só o tempo dirá. Mas é possível ajudar o tempo. Quem sabe o novo Plano Diretor não dá essa força.

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