Por Gilson Santos – Diretor Presidente da Agência de Assuntos Metropolitanos do Governo do Paraná (AMEP)
Muito vem sendo falado a respeito de sustentabilidade nos últimos anos, principalmente por fatos que ganham cada vez mais espaços nos debates mundiais como no caso do aquecimento global e da crise hídrica. No entanto, na prática há uma disparidade entre os muitos conceitos, discursos, cenários e propostas colocadas e as ações concretas na construção de sociedades e cidades mais sustentáveis.
Vejamos, por exemplo, a permanente valorização da indústria automotiva e do veículo individual, inclusive com benefícios fiscais para sua produção e comercialização, em detrimento ao transporte coletivo, que ano após ano amarga uma crise estrutural e vem encolhendo e castigando aqueles que mais precisam.
Da mesma forma, assistimos nas últimas décadas, principalmente em se tratando do Brasil, o espraiamento da densidade populacional para regiões periféricas e sem o básico para o exercício da cidadania e da dignidade social de milhares de famílias. E isso se dá pela vontade da exploração econômica imobiliária que sempre está numa velocidade feroz e jamais acompanhada pelos serviços e estruturas públicas.
Só por estas duas razões já podemos dizer que a sustentabilidade urbana continua na sua maioria existindo nos livros e pensamentos mas é realidade distante de quem na prática precisa muito dessa possibilidade de vida mais justa e inclusiva.
Primeiro que pensar em sustentabilidade sem promover a prioridade ao coletivo é totalmente equivocado e inócua. Sendo assim, é necessário que as políticas públicas e a formatação das cidades, e para isso existem os Planos Diretores Municipais, sejam muito bem definidas e claras em favor da maioria.
Tudo se repete, independente de que regiões estejamos tratando, no que trata da dificuldade de acesso à terra urbanizada, déficit de moradias adequadas, déficit de cobertura dos serviços de saneamento ambiental, baixa qualidade do transporte público, poluição ambiental, desemprego e precariedade de emprego, violência urbana e marginalização social. Essas são as batalhas a serem vencidas para que esse olhar e desejo de sustentabilidade urbana comece a ser construído.
Uma cidade pode possuir grandes reservas ecológicas, extensas áreas de parques e memorável preservação de espécies em extinção, mas só se tornará mais ou menos sustentável se essas características forem associadas diretamente ao dia a dia da população, especialmente daqueles que mais precisam. Esse é o grande desafio: a inclusão.
São muitos temas que impactam diretamente na vida das cidades e das pessoas, e que não vão ser todos tratados e resolvidos de uma hora para a outra, mas que precisam ser prioritários na agenda da esfera pública, do terceiro setor, da iniciativa privada e dos órgãos de controle. Sem essa linha de atuação a sustentabilidade pode até continuar sendo tema dos mais diversos encontros, aqui e mundo a fora, para muitas elucubrações, porém, sem o resultado que se faz necessário. O que precisamos agora é atitude, investimentos e definitivamente ações concretas.