Pela primeira vez desde o início da pandemia o número de segmentos com altas nas vendas (agosto de 2020 em comparação com o mesmo período do ano passado) supera o de grupos em baixa. Venderam mais: áudio, vídeo e eletrodomésticos (49%); informática e telefonia (26%), material de construção e ferragens (22%), hipermercados e supermercados (12%), farmácias (10%), cama, mesa e banho (8%), cosméticos, perfumes e higiene pessoal (5%) e veículos novos (1%) – este último, aliás, registrou o primeiro respiro de vendas desde janeiro.
Por outro lado, os setores mais atingidos pela crise continuam registrando queda em agosto, embora em percentuais menores que nos meses anteriores. São eles: vestuário e acessórios (-15%), calçados (-23%) e restaurantes e lanchonetes (-42%). Nos dois primeiros casos, porém, os percentuais de queda são os mais baixos desde fevereiro – o que demonstra uma pequena reação.
No acumulado do ano, seis dos 11 segmentos avaliados ainda registram quedas: restaurantes e lanchonetes (-36%), calçados (-34%), vestuário e acessórios (-29%), veículos novos (-17%), cama, mesa e banho (-15%) e cosméticos, perfumes e higiene pessoal (-8%). Acumulam altas nas vendas segmentos de informática e telefonia (1%), material de construção e ferragens (3%), farmácias (6%), áudio, vídeo e eletrodomésticos (7%), e hipermercados e supermercados (10%) acumulam altas nas vendas.
Produtos – No recorte de vendas totais por produto, que incluem as negociações de mercadorias entre empresas ao longo da cadeia produtiva e as exportações, 24 grupos tiveram altas nos primeiros 15 dias de agosto, enquanto apenas quatro registraram queda.
Os principais destaques no comparativo com o mesmo período de 2019 foram linha branca (74%), tratores (55%), notebooks (52%), cereais, farinhas, sementes e café (52%), frutas, verduras e raízes (46%) e telefones celulares (45%). Tiveram retração automóveis (-31%), vestuário (-21%), iluminação (-5%) e produtos de limpeza (-3%).
No acumulado do ano, as maiores altas foram no setor alimentício: cereais, farinhas, sementes, chás e café (35%), frutas, verduras e raízes (23%), carnes, peixes e frutos do mar (20%), produtos químicos (19%) e notebooks (14%). Por outro lado, as maiores baixas de 2020 concentram-se no vestuário (-28%), automóveis (-27%), caminhões e ônibus (-22%), tratores (-14%), motocicletas (-12%) e bebidas não alcoólicas (-5%).
Tendência – O valor médio de emissão de Notas Fiscais Eletrônicas (NF-e) nas primeiras semanas de agosto confirma a tendência de reequilíbrio econômico. Houve crescimento nos comércios atacadista e varejista e na indústria de alimentos – a exceção foi a indústria de transformação, com queda de 8 pontos percentuais em relação a julho. Comércio varejista e indústria de alimentos, inclusive, sustentam índices superiores aos de março (utilizados no estudo como base de comparação).
Na macrorregião Leste (do Centro-Sul ao Litoral, passando por Curitiba, Campos Gerais e Região Metropolitana), sobressaíram os resultados do comércio varejista e da indústria de alimentos, operando acima dos patamares observados antes da pandemia.
A macrorregião Noroeste (região de Maringá e Umuarama), registrou um forte recuo na indústria de transformação, em contraposição ao crescimento das atividades comerciais. O ramo varejista pela primeira vez passou a operar a níveis superiores aos de antes da pandemia.
E a macrorregião Norte (Londrina e região), num reflexo do Estado, também registrou alta em três das quatro atividades avaliadas. A indústria de alimentos é atualmente o segmento com índice mais elevado, suplantando o patamar de operação pré-pandêmico em 11,1%.
Poucas empresas sem atividade – O número de empresas paranaenses em atividade teve pouca alteração em relação ao final de julho, muito próximo do observado no início de março, ou seja, é bastante reduzida a quantidade de estabelecimentos que estejam totalmente paralisados devido à pandemia.
No total do Estado, o percentual de empresas que emitiram ao menos um documento fiscal (NF-e ou NFC-e), o que as caracterizam como ativas no começo de agosto, chegou a 97%. Para efeitos de comparação, no final de março este índice havia despencado para 54%.
Em diversos municípios o índice de empresas em funcionamento voltou a 100%. Enquanto Curitiba registrou um percentual de 93%, Foz do Iguaçu segue com o mais baixo percentual de empresas ativas: 88%.
Arrecadação em queda – Já o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), que reflete as vendas do mês anterior, voltou a registrar queda após a reação de julho e ainda está longe de retomar os níveis pré-Covid. O montante arrecadado nas primeiras semanas do mês foi de R$ 2,22 bilhões – 3,7% menos do que no mesmo período de 2019. No acumulado de 2020, a queda na arrecadação do principal tributo do Estado chega a R$ 1,5 bilhão (-7,5%).
A baixa é puxada principalmente pelo setor de combustíveis, cuja participação representa 22% de todo o total do ICMS arrecadado no Paraná. Nestas primeiras semanas de agosto, o segmento registrou variação negativa de R$ 134 milhões (-21%). O setor automotivo também caiu em arrecadação (-15,6%).
Por outro lado, segmentos significativos na composição do tributo tiveram alta este mês: energia (1,5%), indústria (15,3%) e bebidas (6,5%).
PIB – Ainda segundo a análise do boletim conjuntural, as perspectivas para 2021 são de um Produto Interno Bruto (PIB) nacional 7% menor do que seria num cenário sem pandemia. Como a arrecadação de ICMS tem forte correlação com a atividade econômica, uma queda desta ordem pode retirar R$ 2,3 bilhões dos cofres públicos no próximo ano.
Distorções na ajuda federal aos estados prejudicaram o Paraná
O boletim desta semana mostra que o modelo do socorro federal aos estados para compensar as perdas de arrecadação com a pandemia de Covid-19 apresenta graves distorções que prejudicam algumas unidades da federação – entre elas, o Paraná. De acordo com o Estudo Técnico 24/2020, da Consultoria de Orçamento da Câmara dos Deputados, até o momento o auxílio da União não foi suficiente para cobrir as perdas de ICMS.
Segundo o documento citado no boletim, a metodologia utilizada fez com que diversos estados recebessem valores muito superiores às suas perdas (o caso mais emblemático é o de Mato Grosso, que registrou uma perda de receita de apenas R$ 3,5 milhões e recebeu repasses de R$ 727,4 milhões – 205 vezes mais), enquanto os três estados do Sul e São Paulo receberam valores inferiores à perda de receita. No caso do Paraná, o prejuízo chega a R$ 26 milhões.
Para os autores do estudo, esse “excesso” de repasses para alguns estados representa um gasto novo da União e que não tem finalidade específica, com a destinação dos recursos ficando a critério dos governadores.
Por outro lado, alguns estados não cobriram sequer as perdas. “Não obstante o auxílio superar para o conjunto dos estados a queda de arrecadação do ICMS nos meses de abril a junho, na comparação estado a estado os valores dos repasses foram inferiores à perda de receita nos casos de São Paulo e dos três estados da Região Sul”, pontua o estudo técnico.
Fonte: AEN