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Nós estamos matando as onças

Está cada vez mais difícil conviver em um mundo com tantos especialistas em tudo nas redes sociais. Estes indivíduos na verdade nos dão aula de estupidez quando se sentem aptos a falar de assuntos que vão desde um penico até uma bomba atómica. Existe até um nome para este fenômeno: efeito Dunning-Kruger. As experiências realizadas pelos cientistas David Dunning e Justin Kruger (Universidade de Cornell), deram luz à indivíduos que possuem pouco conhecimento sobre um assunto mas acreditam que sabem mais que outros mais bem preparados. Isto os faz tomar decisões erradas e chegar a resultados incorretos. A capacidade de reconhecer os próprios erros é restringida pela sua incompetência.

Na temática ambiental observamos recentemente um exemplo clássico deste efeito. No mês de novembro de 2021, 172 dos 176 flamingos residentes no Parque das Aves em Foz do Iguaçu/ Paraná foram encontrados mortos. Na investigação, logo descobriu-se que a causa foi a presença de 2 onças pintadas. Este parque existe há 27 anos e nunca havia registrado um ataque de onças. Nos 80 anos do Parque Nacional do Iguaçu não há nenhum registro de ataque de onças a seres humanos. Segundo o projeto Onças do Iguaçu (@oncasdoiguacu), o bioma Mata Atlântica possui cerca de 250 a 300 onças-pintadas, sendo que 105 delas estão na região do corredor verde, que abrange os lados brasileiro e argentino do parque (Censo 2018). Sabe-se também que 28 delas foram registradas no Brasil.

Voltando ao fato ocorrido com os flamingos, os especialistas das redes sociais, alvoroçaram-se para darem seus palpites furados. Como diz a própria nota do projeto que estuda as onças da região, “o evento foi uma fatalidade pois o Parque das Aves é todo cercado e funcionários monitoram o perímetro e áreas internas diariamente. Temos uma população criticamente ameaçada de extinção que quase se extinguiu na década de 90. Onças são animais selvagens, são carnívoros, exímios predadores. Elas caçam e se alimentam de outros animais. Não são cruéis. São onças”.

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