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Em crise, avicultores têm granjas fechadas e contabilizam dívidas

Aviário do produtor Josnei Theiss foi um dos desativados pela empresa JBS. Foto: Arquivo/O RegionalA avicultura é considerada uma atividade rentável, no entanto, a instabilidade do mercado, somada as exigências das empresas, tem feito com que muitos agricultores deixem de alojar frangos. Nos últimos meses, a crise do segmento se acentuou com a operação Carne Fraca, da Polícia Federal, que apurou uma série de irregularidades nos frigoríficos, resultando na diminuição da produção e da venda.

Esta queda no segmento agropecuário resultou no fechamento de granjas e, para muitos avicultores, restaram somente as dívidas de altos financiamentos. É o caso do avicultor Josnei Theiss, da localidade de Lageado dos Vieiras, em Rio Negro, que trabalha neste setor há 23 anos e em 2010 financiou R$ 350 mil para construção de uma nova granja. “Na época, ela atendia a todos os padrões de ventilação, forração, aquecimento, inclusive tive que implantar a barreira sanitária, a qual conta com a construção de um arco para desinfecção, escritório com banheiro e cercado em volta de toda a estrutura”, relembra. Após pagar sete anos de financiamento, Josnei foi comunicado que seria desintegrado da empresa JBS, da Lapa. “Fiquei com R$ 36 mil de dívida e, se quisesse permanecer, teria que investir cerca de R$ 1 milhão em uma nova estrutura. Mas não há como investir alto em uma atividade em que o produtor não tem a garantia de quanto tempo irá alojar os frangos”, ponderou.

Josnei relata que em média os frangos ficam cerca de 40 dias alojados e são entregues quando pesam cerca de 2,8 quilos. “Com a granja que possuo alojava 18 mil frangos e recebia por lote cerca de R$ 8 mil bruto, resultando em um lucro de cerca de R$ 3 mil”, estima Josnei, relembrando o trabalho na avicultura. “Quando se trabalha com granja não há final de semana e feriado, tem que se ter uma atenção especial durante todo o processo, inclusive levantando várias vezes durante a madrugada. Eu mesmo não penso em voltar a atuar neste segmento”, descreve.

Outro avicultor que deixou de alojar frangos é José Fleischmann, da localidade de Campina dos Maia, em Piên. Ele conta que foi integrado durante 27 anos, sendo 10 pela JBS. “No início não foi necessário fazer grandes modificações, mesmo assim tive que investir cerca de R$ 50 mil, implantando novas cortinas, silo, bebedouro e comedouro automatizado”, recorda José. Recentemente, o avicultor foi avisado pela empresa que para continuar na produção seria necessária a construção de uma nova granja, em um investimento de cerca de R$ 750 mil. “Como já estou aposentado, acredito que não é vantajoso contrair uma dívida deste porte, ainda mais com a crise que afeta o setor. Vou utilizar a estrutura atual da granja para criar galinha poedeira”, relatou.

Segundo dados da Adapar, nos municípios de Rio Negro, Piên e Campo do Tenente estavam em funcionamento 67 granjas no último mês de janeiro. No mês de abril, este número recuou para 53 unidades, sendo que somente em Rio Negro 10 avicultores foram desintegrados.

Em contato com a empresa JBS, a mesma não respondeu aos questionamentos até o fechamento desta edição.

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