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Alta no preço do diesel pode gerar nova paralisação dos caminhoneiros

Jocemir lamenta a falta de valorização que a classe enfrenta nos últimos anos. Foto: Arquivo/O RegionalA alta no preço dos combustíveis vem causando grandes prejuízos a uma classe não valorizada já há muito tempo: a dos caminhoneiros. Com o valor de frete estagnado e o aumento desenfreado dos custos, muitos motoristas têm trabalhado apenas para o sustento da família, sendo que nem mesmo a manutenção correta do veículo é possível ser feita. Tamanha a dificuldade enfrentada, que até mesmo uma nova paralisação não está descartada.

Esta realidade é retratada pela Cooperativa dos Transportadores de Cargas (Cooperleste) de Piên, que vem tendo dificuldades para encontrar fretes rentáveis aos seus cooperados. “Para um motorista de carreta, o transporte para Curitiba, cerca de 200 quilômetros, é pago de R$ 500,00 à R$ 700,00. Somente com o combustível, o gasto é próximo de R$ 300,00, isso sem contar o trabalho do motorista, os gastos do caminhão, seguro, financiamentos, entre outros. Estimamos que seria necessário ao menos R$ 1.000,00 para este transporte”, avalia Wilson Fragoso, fazendo um comparativo apenas em relação aos pneus. “Cada carreta conta com o mínimo de 18 pneus. Além do desgaste natural, se um deles estourar o custo de reposição de um item de qualidade média é de R$ 1.600,00”, calcula Wilson.

A situação é ainda mais preocupante para quem está pagando financiamentos e terceiriza motorista. “Vemos muitos caminhoneiros que seus veículos estão próximos de serem tomados pelos bancos em virtude das prestações atrasadas, além do sucateamento da frota, já que o valor arrecadado muitas vezes só dá para alimentar a família”, lamenta Wilson, que defende a paralisação. “Talvez essa seja a única forma de sensibilizar as autoridades para que valorizem a classe dos caminhoneiros. Estamos trabalhando no vermelho há muito tempo e não vemos quaisquer sinais de melhora”, ressalta.

Dedicando-se a profissão de caminhoneiro há 22 anos, Jocemir Loch da Silva, de São Bento do Sul, conta que trabalhava em uma empresa de transporte e ao sair dela adquiriu um caminhão próprio com o valor que recebeu do acerto. “Foi a realização de um sonho, mas que foi se tornando em pesadelo. Eu não tinha uma reserva de dinheiro e praticamente tudo o que ganhava tinha que aplicar no caminhão. Decidi então vender o veículo e voltar a trabalhar empregado como motorista”, conta Jocemir.

Nesta semana, ele viajou 2.600 quilômetros, onde recebeu cerca de R$ 4.000,00, somados os fretes de ida e de retorno. “Gastei cerca de R$ 1.500,00 em diesel e de R$ 1.400,00 somados alimentação e pedágio. Sobram R$ 1.100,00 para a manutenção do caminhão e o lucro da empresa”, detalha Jocemir, lamentando a situação. “Hoje, o frete de retorno está em média R$ 1,40 o quilômetro rodado. Estimo que o mínimo teria que ser R$ 2,50”, calcula o motorista, que também defende a paralisação, mas não nas rodovias, para evitar que os caminhoneiros sejam multados como da última vez.

Caminhoneiros vão parar – A Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam) protocolou, na última segunda-feira, um ofício junto à Presidência da República exigindo a aplicação de medidas que reduzam os preços dos combustíveis. A entidade deu prazo até este domingo para que seja aberta negociação sobre o assunto, com indicação de paralisação em nível nacional caso isso não aconteça. Algumas categorias e empresas de transporte confirmaram que irão iniciar paralisação às 6 horas da próxima segunda-feira, alegando que os aumentos dos combustíveis estão inviabilizando a atividade. Apesar desta pressão, o governo vem dando sinais de que não pretende abrir mão dos impostos obtidos com o aumento dos combustíveis.

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